Dizem que as conchas revelam o som do mar, assim como a arte de Emi revela a imensidão e a diversidade do oceano. Pelo balanço da maré, ela se inspira. Pelo ritmo das águas, ela cresce. A natureza é o seu lar, sua linguagem e sua expressão. Encantada por texturas, ela mergulhou nas riquezas naturais e se encontrou no fluxo de águas belas, sensíveis e multicoloridas.
O ciclo universitário que se encerra agora mostra novos sonhos, novos rumos a desbravar. A sua arte também trouxe consigo o seu autoconhecimento enquanto mulher, o seu olhar enquanto pessoa. Esse olhar que antes era retraído pela timidez, hoje flui entre força e sensibilidade por meio da sua relação consigo mesma, em sua conexão com a cidade e sua paixão pelas novas descobertas da vida. Assim, ela permanece sendo movida por coisas que a apaixonam, transformando essas inspirações em arte.
Conheça mais sobre o trabalho da Emi aqui.
Devota da beleza de todas as coisas.
Emi Teixeira
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Quem são seus artistas favoritos (música, literatura, arte, etc)?
Música é um dos campos que eu tenho artistas mais variados e que não existe um preferido, mas sim fases. Eu acho que aqueles que se mantém constantes e que eu admiro muito sempre são: Bethânia, Gilberto Gil, Caetano e Chico. Mas ultimamente tenho ouvido muito Chico César e o novo CD da Lady Gaga. Na literatura, eu gosto muito de Clarice Lispector, tenho lido muito Matilde Campilho e tenho uma paixão eterna por Manuel de Barros.
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Quem é a mulher que você mais admira?
Tem mulheres muito próximas da gente (aqui em Fortaleza, por exemplo), que me inspiram muito e que eu admiro muito. Uma delas é a Fernanda Meireles, uma grande artista, uma pessoa super sensível e também super inquieta, sempre mobilizada em transformar alguma coisa na nossa cidade.
A Marília Oliveira também é uma pessoa fantástica, uma alma iluminadíssima, que é fotógrafa e trabalha com uma série de intervenções urbanas. É uma pessoa que tem trabalhos belíssimos voltados para o empoderamento feminino. Inclusive, o último trabalho dela - Remissão -, fala sobre a dificuldade que a mulher tem na nossa cidade de lidar com assédio.
A Glória Diógenes é mais uma pessoa fantástica, professora da UFC e pesquisadora. É uma mulher linda em todos os aspectos. Além dessas mulheres mais próximas, tenho alguns ícones que já tenho como inspiração pelos modelos de arte, que é a Bethânia, a Campilho e tantas outras mulheres.
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Qual é a grande paixão da sua vida?
Eu me apaixono todo dia e por muitas coisas. Eu acho que sou movida por coisas que me apaixonam. Mas, se tivesse que dizer uma coisa que atravessa todas essas paixões, seria a minha relação com o mar, porque o mar pra mim é uma casa, um berço, além de ser a minha linguagem. Isso atravessa o meu processo criativo, a figura do mar é muito presente na minha vida.
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Qual a sua ocupação atualmente?
Quando a gente fala de emprego, seria o trabalho de atendimento em uma agência de publicidade. Mas, além disso, eu tenho um trabalho de bordado, que eu desenvolvo com o André Rodrigues. Fazemos bordados sobre madeira, acrílico e tecido. Também tenho um projeto de fotografia que eu desenvolvo com a Bianca Misino e o Humberto Mota.
E agora estou desenvolvendo o meu projeto de TCC: uma pesquisa sobre malabaristas de rua, que teve como produto algumas fotos que a gente colocou pela cidade.
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Você acha que o seu trabalho traz alguma contribuição no sentido de representatividade/empoderamento feminino?
Isso é algo que eu me cobro, mas acho que não é algo que eu consigo perceber posto em prática no meu trabalho. Hoje, a arte funciona para mim numa condição de autoconhecimento e, dentro desse sistema, a arte tem me permitido encontrar dentro de mim aquilo em que ainda preciso ser empoderada, desconstruir o machismo que existe dentro de mim. Em algum momento, quando eu tiver isso amadurecido, talvez eu consiga reconhecer no meu trabalho algo que realmente seja um discurso que empodere.
Acredito que, quando fazemos qualquer coisa, estamos elaborando um discurso. Até quando a gente não diz nada, tem um discurso que está sendo proferido. E tudo que a gente fala parte do pressuposto que existem outras coisas que são silenciadas. Porque, para eu escolher o que eu quero dizer, eu escolhi calar outras coisas. No momento em que eu tenho consciência disso, significa dizer que o meu discurso necessariamente está sendo inclusivo para algumas pessoas e exclusivo para outras.
Então, quando escolho posar para uma foto, escolho o que vou colocar na rua em uma fotografia, naquilo que eu vou bordar, na temática que eu vou desenhar, no texto que eu estou redigindo, existe essa preocupação de estar tentando encontrar um discurso que seja inclusivo, mas eu não me arrisco a dizer que eu consigo fazer isso. Eu tento, eu busco, mas acho que ainda sou aprendiz desse feminismo que um dia eu quero propagar.
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Você nota que existe, ou já existiu, alguma diferença no tratamento do seu trabalho pelo fato de você ser mulher?
Eu já fiz muitos ensaios de fotografia boudoir, já posei nua várias vezes, e isso é algo extremamente libertador para mim. Quando tinha 18 anos, vivi uma situação de abuso e foi algo que me marcou muito. O primeiro ensaio que fiz nua, em 2013 com o Igor Cavalcante e o Ivens Andrade, foi um trabalho que nem quando aceitei participar eu tinha a consciência de quanto isso seria transformador na minha vida. A partir desse ensaio, eu comecei a ter outra consciência corporal, eu comecei a me relacionar com o meu corpo de uma outra forma. Até então, eu me infantilizava para que não me tornasse esse objeto de cobiça e que, de uma algumas forma, as pessoas viessem a querer abusar de mim novamente. Eu percebi que a solução não era me retrair, e sim me mostrar, me botar pra fora, conhecer aquilo que eu tinha para dar para o mundo, de força, de sensibilidade ou o quer que fosse que viesse daqui de dentro.
E isso é algo que as pessoas têm muita dificuldade de lidar. Eu ouvia uma série de piadas, uma série de questionamentos por estar nua, sejam eles discursos machistas, sejam eles discursos mais religiosos. Essas pessoas também acham que, por você estar posando nua, você tem a sua inbox aberta para receber uma série de nudes indesejadas. O discurso para manter esse tipo de atitude era baseado nisso: “Nossa, achava que você gostava.”
Às vezes, eu fazia trabalhos em parceria com outros homens e, eventualmente, os trabalhos ganhavam repercussão. Nos momentos em que nós éramos entrevistados, a gente percebia que os repórteres colocavam os depoimentos mais técnicos sempre para os rapazes, e os depoimentos mais afetivos sempre para mim. Isso sempre me chamou atenção.
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Qual a sua citação favorita?
“O melhor lugar do mundo é aqui e agora.” (Gilberto Gil)